quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Tua

Tão brava galopas
Nas rochas que desprendes das montanhas
Que cavas no seio dos montes
E se prendem ao teu esplendor.

Essa declaração de amor que é ser minha
Eu jamais a tinha escutado 
Não fosse essa voz a rebentar ao sol
Num eterno romper de liberdade

E um dia raptaram-te, fizeram-te deles.
Querem que já não sejas minha
Que te desfaças contra uma parede
Que te suicides nos vales que sozinha forjaste.

Tão incrédulo ver-te presa,
Esmagada e triste,
Comida pela ganancia
Destruida.

Nunca mais fui o mesmo
Só o sou ao relembrar-te
Quando te desceste do céu 
E ao infinito me devolveste.




De, João Bilhó

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Rebentação

Vejo-te dentro da maré alta, rebentações furiosas
largadas à ternura de um postal sobre a costa luminosa.
Vivo na pedra onde cai a tua água, lágrimas pela madrugada
salgando a boca mutua de palavras em estado-limite.

Assim somos entre beijos aquosos - um afogo de amor
a favor da natureza implacável, onde só o tempo
construirá a mecha de areal que pretendemos
a cada abraço profano, a cada onda de turbulência desmedida.

Lembro-me desse mar, atraida pela cicatriz da rocha,
um beijo em desespero como se fosse erosão sobre os lábios:
como me aproximo de ti e vejo a escarpa mortal
és o salto para dentro, a vista desprotegida sobre o Cabo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Dimensão Quimíca

Eu e a miúda contra a parede, se ao menos alguém soubesse
o sangue que ferve de igual forma em corpos opostos
como nasce o sorriso, o rosto pousado na relva
pássaros verdes cantando um verão deixado:
em como fugi da divisão e encontrei uma casa no olhar,
dela, deles, nós nesta dimensão desconhecida
a que chamam atracção
quantas vezes através do abismo,
agora subitamente através do sol iluminado
uma segunda chance de sermos infinitas
todas as hipóteses tiradas com força à loucura
finalmente livres da grade em que nos convençeram a vida.